PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DO TREINAMENTO FÍSICO
Os princípios biológicos do treinamento físico são regras gerais,
baseadas nas ciências biológicas e pedagógicas, que tem por finalidade melhorar
ou manter a aptidão física.
O
treinamento físico é considerado um processo complexo ao qual um bom resultado
depende da união de diversos fatores, que vão desde o domínio dos conhecimentos
do conteúdo do treinamento, até a intuição e sensibilidade do Profissional de
Educação Física. Aplicando estes princípios há uma maior chance do aluno
alcançar os resultados almejados. Caso um destes princípios seja desrespeitado
perde-se o controle do treinamento e a eficácia dos resultados.
Os Princípios Biológicos do Treinamento Físico são:
1.
Princípio
da Conscientização
Abrange
não somente a prática do exercício em si, mas os verdadeiros motivos da sua
realização. Desta forma, estando o aluno consciente dos motivos pelo qual
treinará e os benefícios que o tipo de treinamento escolhido irá proporcionar,
realizará os exercícios propostos com mais eficiência obtendo resultados mais
significativos.
2.
Princípio
da Saúde
O
princípio da saúde indica que o exercício físico deve proporcionar saúde e
qualidade de vida ao praticante. Exercício
físico é toda atividade planejada, estruturada e repetitiva que tem por
objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física.
Segundo a OMS, aptidão física é a
capacidade de realizar trabalho muscular de maneira satisfatória, ou seja,
realizar as atividades da vida diária com vigor, eficiência, reduzindo assim os
riscos de doenças crônico-degenerativas.
Estudiosos
apontam dois componentes relacionados à aptidão física voltada para saúde:
Aptidão cardiorrespiratória:
capacidade de continuar (ou persistir em) tarefas extenuantes que envolvam, por
períodos de tempo prolongados, grandes grupos musculares.
Composição corporal:
quantidade relativa de gordura corporal e massa magra.
Aptidão músculo-esquelética:
refere-se a flexibilidade, força e resistência muscular.
Em
alguns casos, o princípio da saúde não se aplica ao esporte de alto rendimento.
3.
Princípio
da Individualidade Biológica
“Cada
indivíduo é um ser único, respondendo de forma diferente às cargas impostas
pelo treinamento físico” (Guedes et al. 2008).
A
individualidade biológica refere-se às diferenças existentes entre as
pessoas quanto à carga genética (genótipo) e as experiências adquiridas após o
nascimento (fenótipo). Esses dois fatores terão influência na resposta às
cargas de treinamento impostas. Sendo assim, um mesmo treinamento terá resposta
diferente em cada indivíduo.
Para o esporte de alto rendimento a
genética é fator fundamental, uma vez que é ela quem vai determinar o tipo de
fibra muscular, estatura e morfologia. Já na prática do exercício físico
voltado para a saúde, também deve-se levar em conta outros fatores como
objetivo, atividades diárias, disponibilidade de tempo, hábitos diários,
aptidão física atual, etc., assim como identificar doenças hereditárias, como
diabetes, cardiopatias, hipertensão e algumas formas de câncer. Em relação ao
fenótipo, alguns dos fatores que interferem são: a carga intelectual, o
treinamento físico e a alimentação diária, dentre outros.
O
profissional de Educação Física deve estar ciente deste princípio, a fim de
indicar um programa individualizado, produtivo e seguro, que possibilite
controlar todas as variáveis citadas acima. A avaliação física é a forma mais
eficiente de obter os dados necessários para prescrição de um programa de
treinamento adequado ao aluno.
4.
Princípio
da Adaptação
“O
conceito adaptação é um modo de explicar como as entidades biológicas se
modificam ao longo do tempo” (Guedes 2008, apud Pereira e Souza Jr, 2002).
Situações estimuladoras provocam no
organismo uma série de reações fisiológicas que alteram seu equilíbrio
homeostático[1]
causando, simultaneamente, outra série de reações como forma de resposta para
restabelecer o equilíbrio. Se esses estímulos atuarem continuamente darão origem
a reações diferentes. São elas: reações de alarme, reações de resistência e reação
de exaustão.
A reação de alarme acontece quando um estímulo intenso produz
desequilíbrio ativando um conjunto de mecanismos e provocando diminuição na
capacidade fisiológica do organismo. Ao término do estímulo, o organismo logo
se recupera ultrapassando o nível de equilíbrio inicial (supercompensação),
necessitando de um estímulo mais forte para causar novo desequilíbrio, ou seja,
o organismo recebe um estímulo, se adapta a ele e progride. A reação de resistência é determinada pelo
tempo em que o organismo deve resistir para suportar a carga imposta, e a reação de exaustão ocorre, geralmente,
quando uma carga muito forte é aplicada e o organismo não suporta o estímulo
por mais tempo. Existem três tipos de estímulos envolvidos nesta reação:
Estímulo
fraco: só excita, não quebra a homeostase;
Estímulo
forte: quebra a homeostase e permite adaptação (ideal)
Estímulo
muito forte: quebra a homeostase, porém, não permite adaptação, podendo
levar à síndrome de overtraining
(supertreinamento).
5. Princípio da sobrecarga
O princípio da sobrecarga indica que
se aplique aumento progressivo e contínuo na carga de trabalho sempre que o
indivíduo se adapta a carga atual, com o objetivo da melhoria da condição
física. O aumento de carga deve ser aplicado no ápice do período de
supercompensação[2],
com o objetivo de manter o estímulo forte. A sobrecarga pode ser aplicada no
volume ou na intensidade.
Volume: refere-se
ao aumento da quantidade. Ex: no exercício aeróbio amplia-se a duração da
sessão e a freqüência semanal; na flexibilidade a duração da aula; no
treinamento de força o número de repetições, séries e exercícios.
Intensidade: refere-se
ao aumento na qualidade. Ex: aumenta-se a velocidade da corrida, amplitude na
sessão de flexibilidade e o peso no treinamento de força.
6.
Princípio da continuidade
Se o
treinamento for contínuo, o aprimoramento do desempenho ocorre ao longo do
tempo. Porém, os efeitos do treinamento são transitórios e o organismo também
pode adaptar-se à inatividade. Isso ocorre porque o organismo adéqua-se a um
nível habitual de solicitação e a suspensão ou redução de treinamento leva ao
reajuste dos sistemas corporais. Os períodos de tempo de destreinamento muito
prolongados conduzem o indivíduo treinado a condições próximas de um
sedentário, portanto, se o organismo não receber uma carga de intensidade igual
e/ou superior no prazo adequado, não ocorrerá ajuste positivo na aptidão
física.
Em um programa de treinamento eficiente e seguro,
aplica-se progressivamente a sobrecarga no organismo e o tempo de recuperação é
suficiente para que haja adaptação a cada nível solicitado.
7. Princípio da
Variabilidade
Este
princípio é uma forma de garantir que o indivíduo não se acomode!
Se
a carga aplicada e/ou o tipo de atividade física não sofrer variação, o
organismo tente a assimilar e acontece a regressão na capacidade física.
Resumindo: é ineficaz para o indivíduo praticar atividade física sempre com a
mesma intensidade. A variação de estímulos é necessária para evitar a
estagnação no rendimento e melhorar ou manter a capacidade física.
8. Princípio da
Interdependência volume-intensidade
Volume
= quantidade de treinamento
Intensidade
= qualidade do treinamento
O
volume e a intensidade são inversamente proporcionais, ou seja, com o aumento
do volume ocorre a diminuição da intensidade e vice-versa. Vamos à prática:
numa sessão de treinamento com pesos, onde o aluno executa uma série de 20
repetições com peso “x”, ocorre um estímulo muscular significativo. Porém, se
ele executar apenas 10 repetições com o mesmo peso ficará muito fácil. Para que
ele tenha um estímulo considerável, deverá ser utilizada uma carga de peso
maior, ou seja, diminuiu o volume e aumentou a intensidade. Já no treinamento
aeróbio utiliza-se uma velocidade menor para um tempo maior de exercício, ou
vice-versa, dependendo do objetivo do aluno.
9. Princípio da Especificidade
O
princípio da especificidade é, provavelmente, o mais importante para pessoas
com metas específicas (hipertrofia muscular, perda de peso, rendimento
esportivo, etc.), mas menos importante para aqueles que se exercitam por
diversão ou para manter um condicionamento físico geral.
Um
indivíduo que tem por objetivo o treinamento de força e realizar trabalho de
resistência, por exemplo, terá seus resultados comprometidos. Um treinamento de
corrida a longa distância tem efeitos diferentes dos de um treinamento para
natação ou ciclismo, mesmo que todas estas atividades sejam de resistência.
Neste
princípio alguns aspectos devem ser levados em consideração:
·
Sistema de produção de energia dominante.
·
Grupos musculares envolvidos.
·
Movimento específico
Difícil?
Não se preocupe! Procure um bom profissional de educação Física que ele saberá
adequar o treinamento aos seus objetivos.
A aplicação destes princípios é fundamental para alcançar
o resultado almejado. Caso um destes princípios seja desrespeitado
perde-se o controle do treinamento e a eficácia dos resultados.
A
musculação também deve respeitar estes princípios. Sendo assim pode-se concluir
que para um resultado eficiente é necessário o acompanhamento de um bom
profissional de Educação Física, que conheça e saiba aplicar cada um deles.
A
internet disponibiliza uma imensidão de informações elaboradas por pessoas que
amam se exercitar e exibem seus corpos e feitos em vídeos e dicas de
treinamento, mas que nem sempre são qualificadas para tal função. Apesar da boa
intenção os resultados podem ser catastróficos. Informe-se! Da mesma forma que
a internet é utilizada para procurar treinos e resultados milagrosos, procure a
qualificação do indivíduo que está lhe sugerindo algo. Consulte os sites do
Conselho Regional de Educação Física (CREF)[3]
e do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF)[4].
Lá estarão profissionais capacitados e com a formação necessária para
orientá-lo.
Cuide
e respeite seu corpo! Ele é seu maior patrimônio. Você vai entregá-lo a um
amador?
[1]
Homeostase – estado de equilíbrio dinâmico
[2]
Supercompensação: a recuperação adequada proporciona um superávit tanto metabólico quanto estrutural, adaptando o organismo
a níveis superiores. Desta forma o indivíduo estará apto a sustentar estímulos
maiores. (Guedes et al, 2008).
[3]
Conselho Regional de Educação Física do RS – CREF2/RS: www.cref2rs.org.br
[4]
Conselho Federal de Educação Física – CONFEF: www.confef.org.br