O FUTURO (DE UM) ATLETA.
Nosso
país sempre foi celeiro de grandes atletas, de várias modalidades esportivas,
ficando o futebol com o troféu de primeiro lugar na preferência da maioria da
população. Ele é democrático, de fácil acesso, e pode ser praticado em qualquer
lugar. Com a aproximação da Copa do Mundo, crianças, jovens e adultos se veem
envolvidos por um clima futebolístico e, querendo ou não, surpreendem-se em
debates acirrados sobre quem é o melhor, mais eficiente, quem vai ser “o
craque”. Devido às facilidades de acesso aos campinhos e ao glamour mostrado pelas mídias, muitas
famílias de baixa renda incutem em seus filhos a responsabilidade de um futuro
melhor para ele e para a família através do futebol. Tempos atrás, vendo uma
reportagem na televisão, a mãe de um craque famoso comentou que, quando este
era criança, lhe fornecia algo parecido com uma medicine ball (bola com peso) para que o menino chutasse
repetidamente, e assim, se tornasse um craque. De fato ele se tornou um craque
(com sucessivas lesões), mas não podemos afirmar se foi graças à “estratégia”
utilizada pela mãe ou por outros fatores que influenciam no desenvolvimento das
habilidades de uma criança, futuro atleta. Também não nos cabe discutir os
prejuízos de tal prática em uma criança que está em plena formação física, estrutural,
emocional, psicológica. O assunto abordado nesta ocasião será como fornecer
condições para que uma criança venha a desenvolver habilidades que possam ser
utilizadas em modalidades esportivas, se assim ela desejar.
Por
volta dos 6 anos de idade as crianças possuem um potencial de desenvolvimento
para atingir o estágio maduro da maior parte das habilidades motoras
fundamentais. E é a partir destas habilidades que a criança vai criar uma base
para os movimentos específicos de um atleta. Dentre as várias habilidades
pode-se destacar: caminhar, correr, galopar, saltar, saltitar, lançar, chutar,
bater, pegar, desviar, rolar, etc. Se observarmos, a maioria dos esportes
depende destas habilidades específicas.
Uma criança progride de um
estágio para outro de maneira sequencial, influenciada tanto pela maturação
como pela experiência. Vários fatores influenciarão o desenvolvimento de
padrões maduros de movimentos, como condições ambientais, oportunidades para a
prática, o encorajamento e a instrução recebida. Em estudo feito com crianças
de 3 a 5 anos de idade descobriu-se que um programa de instrução, orientado por
especialistas e realizado pelos pais, pode ser um excelente aliado no
desenvolvimento das habilidades da criança. Usaremos o exemplo de chutar uma bola[1]:
Por volta dos 2 e 3 anos de idade a criança inicia o movimento de chutar com a
perna estendida e com discretos movimentos corporais. Entre os 3 e 4 anos ela
já começa a flexionar a perna para chutar. Dos 4 aos 5 anos ela começa a
balançar para frente e para trás com
oposição definida dos braços, e por volta dos 5 a 6 anos de idade ela
desenvolve um padrão “maduro” de chute, acertando corretamente a bola. Toda
criança tem potencial para chegar ao estágio maduro, apenas deve ser estimulada
da forma correta e no tempo certo. Cabe aos pais iniciar estes estímulos, e a
escola, através das aulas de Educação Física, dar condições para que as
crianças desenvolvam suas habilidades corretamente e no tempo certo. Se a
criança se sobressair em alguma modalidade esportiva cabe aos pais procurar
escolhinhas adequadas e capacitadas para que daí sim, surja um futuro atleta.
Outro ponto importante a ser
observado é a diferença entre crianças e entre os padrões. Na diferença entre
as crianças devemos lembrar do princípio
da individualidade de todo aprendizado. Ou seja, a sequencia de progressão
ao longo dos estágios é igual para todas as crianças. O ritmo irá variar
dependendo tanto dos fatores ambientais como dos hereditários. O fato de uma
criança atingir ou não o estágio maduro do movimento depende basicamente do
ensino, do encorajamento e das oportunidades para a prática. Quando esses
elementos não se fazem presentes, as diferenças normais entre as crianças serão
ampliadas. Já a diferença entre os padrões acontece em todas as crianças, pois
elas não progridem igualmente no desenvolvimento das habilidades motoras
fundamentais. Uma criança, por exemplo, poderá ter um movimento de chutar
maduro, mas estar no estágio inicial no movimento de lançar. As brincadeiras e
as experiências instrutivas vão influenciar fortemente no aprendizado.
O papel dos pais é de vital
importância no aprendizado motor de uma criança. Além de estimular corretamente
através de tarefas simples em casa – como chutar ou lançar uma bola, por
exemplo – é fundamental fiscalizar o trabalho que está sendo realizado nas
escolas e nas escolinhas de treinamento. Como em todas as profissões existem
profissionais bons e ruins e cabe aos pais supervisionar para que seu filho receba
uma educação física de qualidade.
As séries escolares iniciais são primordiais
no sentido de desenvolver habilidades motoras nas crianças, não somente para os
esportes, mas para as situações do dia-a-dia, durante toda a vida. Nesta etapa
do desenvolvimento seria imprescindível a presença de Professores de Educação
Física para realizar trabalho especializado com as crianças do ensino
fundamental. Porém, infelizmente, no dia 13 de maio de 2014 foi realizada uma
reunião em Brasília onde o MEC – Ministério da Educação – negou o direito às
crianças que frequentam até o 5º ano do ensino fundamental, de terem aulas com um
Professor de Educação Física[2].
Essa atitude que veta à criança o direito de ter a disposição um profissional
especializado para o pleno desenvolvimento das habilidades motoras é
inadmissível em qualquer lugar do mundo, mas principalmente no país do futebol,
do voleibol, do handebol, do basquete, da natação, das ginásticas e de tantos
outros esportes que levam, no peito, o nome do Brasil.
[1]
O movimento de chutar envolve imprimir força ao objeto com o pé.
[2]
Projeto de Lei 116/2013 - Altera a Lei nº 9.394, de 1996, que “Estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional” dispondo que a educação física,
integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório
da educação básica a ser ministrado, exclusivamente, por professor habilitado
em curso de licenciatura em Educação Física.